Saúde Brasileira em Números: Onde Pesquisar?

Os dados secundários estatísticos são amplamente utilizados para embasar hipóteses e teorias acadêmicas, para ilustrar notícias e artigos de opinião nos media ou como argumento em discussões de café. Apesar disso, frequentemente esses dados são referidos fora do contexto em que foram produzidos e, por isso, acabam por dar azo a interpretações deturpadas.

Ao utilizar dados secundários cuja coleta é responsabilidade de terceiros, é necessário considerar o risco associado à possibilidade de haver displicência no processo de coleta o que, em consequência, coloca em causa a fiabilidade dos dados. Dessa forma, é fundamental utilizar apenas dados produzidos por fontes fidedignas.

Em post anterior indicamos as principais fontes de dados secundários sobre Educação, esta semana trataremos de outro tema fundamental para diagnósticos: a Saúde.

Como na Educação, também os dados sobre Saúde estão particularmente concentrados numa fonte: o Departamento de Informática do SUS (DATASUS). Infelizmente, e aqui ao contrário do que acontece na Educação, o sistema não merece referência nem pela sua organização nem pela sua usabilidade. Complementarmente, podem ser ainda consultados o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apesar de não disponibilizar microdados das suas pesquisas sobre saúde, e a Organização Mundial de Saúde (OMS), embora os dados disponíveis sejam apenas de nível nacional e não tenha página em português.

Considerando, então, os dados do DATASUS, estes podem ser acedidos através do TABNET e, apesar de este se encontrar dividido por temas, em “Indicadores de Saúde” é possível encontrar os dados mais relevantes:

Indicadores e Dados Básicos (IDB): com dados sobre morbidade, mortalidade, fatores de risco e proteção, sobre recursos e cobertura de serviços, o IDB, ainda que com os obstáculos causados pela má usabilidade, é a ferramenta mais completa do site.
Sala de Situação, Cadernos de Informação de Saúde e Monitoramento de Mortalidade: ainda que mais limitados que os dados do IDB, o desenho das ferramentas foi bastante mais feliz e, para uma pesquisa mais superficial, permitem encontrar dados relevantes em menos tempo.

A Agenda de Resultados – Parte I: Brasil

Em abril tive a sorte de visitar Brighton, no Reino Unido, para o congresso do Big Push Forward, um núcleo de acadêmicos, líderes de ONGs internacionais e avaliadores profissionais preocupados com o que chamam de Agenda de Resultados (Results Agenda) no âmbito da avaliação. Para participar da conferência foi necessário compartilhar uma “experiência” pessoal da Agenda de Resultados. Naturalmente, compartilhei minhas impressões (incipientes) sobre  a falta dessa agenda no cenário brasileiro:

Minhas experiências quotidianas no Brasil continuamente me fazem pensar como a Agenda de Resultados é  incompatível com a cultura da nação. A incompatibilidade geral certamente se entrelaça causalmente com a falta da presença da Agenda no cenário nacional. Eu, com a minha herança do ‘Norte Global’, também sinto a falta do que chamaria uma ‘cultura de avaliação’. Não sou antropólogo, mas enxergo que a cultura brasileira tem um jeito distinto de atribuir  responsabilidades, discutir objetivos e criticar, que eu estou constantemente aprendendo. Minha empresa trabalha com contratos públicos, fundações privadas e ONGs. Nenhuma vez ouvi um cliente perguntar sobre um ensaio clínico aleatorizado. Projetos quantitativos são escassos. Treinamento quantitativo é concentrado numas poucas instituições. Neste sentido, a empresa tem suas razões, por exemplo, para introduzir/enfatizar a ideia de um grupo de controle aos clientes novos. Eu concordo com o nosso meta-objetivo de instilar uma mentalidade mais orientada aos resultados [de programas sociais]. A questão é se eu posso articular de forma convincente como esta mensagem pode se modificar, em condições erradas, na ‘Agenda de Resultados’ (com suas conotações pejorativas).

No momento, o campo brasileiro de monitoramento e avaliação é pequeno, mas seus membros são sérios, bem treinados em geral, e altamente profissionais – daí o setor estar pronto para um crescimento enorme. Como vêm duma nação que foi por muito tempo economicamente isolada , uma líder regional, e um ator global importante, os brasileiros parecem seletivos em relação a ideias importadas [ideologicamente]. Ou seja, o Brasil pode ser um dos lugares mais importantes no mundo para o desenvolvimento da cultura e da prática da avaliação no futuro. Finalmente, o momento é AGORA, no começo, no momento em que as borboletas têm potencial máximo de gerar furacões.

(traduzido do inglês)

São as minhas observações informais, feitas sem consultar a ninguém, e certamente enviesadas pelas particularidades de minha posição e história pessoais. Será que servem para gerar uma discussão crítica com vocês, caros leitores?

Qual é o caminho que uma pessoa segue para entrar neste setor? Como se destaca- dos demais?

Como se posiciona o setor brasileiro de M&A em relação a  setores, escolas de pensamento e discussões internacionais? Latino-americanos? Norte-americanos? Quais são as suas particularidades?

Deixo aberto – quais são as suas opiniões?

Educação Brasileira em Números: Onde Pesquisar?

Os dados secundários estatísticos são amplamente utilizados para embasar hipóteses e teorias acadêmicas, para ilustrar notícias e artigos de opinião nos media ou como argumento em discussões de café. Apesar disso, frequentemente esses dados são referidos fora do contexto em que foram produzidos e, por isso, acabam por dar azo a interpretações deturpadas.

Ao utilizar dados secundários, cuja coleta é responsabilidade de terceiros, é necessário considerar o risco associado à possibilidade de haver displicência no processo de coleta o que, em consequência, coloca em causa a fiabilidade dos dados. Dessa forma, é fundamental utilizar apenas dados produzidos por fontes fidedignas.

Ao longo das próximas semanas publicaremos as fontes de referência para a obtenção de dados estatísticos de vários tópicos sobre o Brasil. Esta semana, a Educação.

Os dados estatísticos sobre a Educação no Brasil estão bastante centralizados e são, na sua grande maioria, da responsabilidade do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), que os disponibiliza em diversos formatos: microdados, sinopses e consultas no próprio site. Complementariamente, sugerimos também a consulta dos dados do Fundo Nacional de Desenvolvimento de Educação (FNDE) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Instituto Nacional Estudos Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP)

Microdados
Censo Educação Superior (1995-2011)
Censo Escolar (1995-2012)
Censo Profissionais do Magistério (2003)
Enade (2004-2011)
Enem (1998-2011)
Pesquisa de Ações Discriminatórias no Âmbito Escolar (2008)
Pnera (2004)
Prova Brasil (2007-2011)
Provão (1997-2003)
Saeb (1995-2011)

Sinopses
Educação Básica
Média de Alunos por Turma (2007-2010)
Média de Horas-Aula diária (2010)
Taxa de distorção idade-série (2006-2010)
Taxa de Rendimento (2007-2011)
Taxa de Não Resposta (2010-2011)
Educação Superior
Número de Cursos, Matrículas e Concluintes (1991-2010)

Consulta no Site
Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (2005-2011)

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Censo Demográfico
Dados de Alfabetização (2010)

PNAD
Número Médio de Anos de Estudo (2005 a 2006)

Fundo Nac. Desenvolvimento Educação (FNDE)

Investimento na Educação
Valor ano/aluno e Receita Anual Prevista (2007-2011)

Pesquisador, envie seu artigo

O Seminário da Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação (RBMA) é um evento anual onde se encontram os profissionais do setor no Brasil e os contratantes de avaliação dos setores público e privado. É uma excelente oportunidade de discussão dos resultados de pesquisas aplicadas. Ainda avaliamos pouco e falamos muito sobre avaliação. Então, se o seu trabalho de alguma forma analisa o desempenho de programas e projetos, faça de tudo para mandar seu artigo. A chamada foi prorrogada duas vezes –sinal de que você é muito bem-vindo. Envie sua proposta aqui até dia 24 de maio.

Avaliação na Plan, 5 anos depois

Em 2008, quando a Plan éramos só eu e a Paula, competentíssima ajudante num projeto que introduzia a gestão por resultados na Prefeitura de São Paulo (então no hiato entre uma carreira na Bolsa de Mercadorias e Futuros e o que viria a ser seu encontro com a vocação de professora de letras no ensino médio), eu sonhava que em 2013 a gente tivesse algo parecido com atuação nacional. Imaginava que um bom indicador de sucesso da empresa seria ter ajudado na implantação de programas com beneficiários no Brasil todo, algo como ter um ministério como cliente ou sair a campo fazendo surveys com milhares de casos que seriam lidos por quem tinha poder de decidir.

Colunas em que a gente de vez em quando se apoia
No final deste mês terminaremos um projeto de caracterização em 18 cidades distribuídas por todas as regiões do país. São 18 consultores em campo e potencialmente centenas de milhares de beneficiados. Talvez, enfim, meu objetivo “quantitativo” de 2008 esteja sendo cumprido. Significa muito para todos aqui da Plan; será nosso rito de passagem para o mundo das consultorias “adultas”.

Mas essa não foi nossa conquista principal.

Lembro que, à época, em meio a assistentes sociais desconfiadas, arquitetos sobressaltados, sociólogos reticentes, pensava também que, se em 5 anos de empresa tivéssemos conseguido levar um pouco da racionalidade da avaliação para meios em que o discurso especulativo prevalecia, teríamos ali uma grande vitória. Refiro-me ao debate contínuo de inspiração canônico-teórica, crítico sem dúvida, e humanista no bom sentido de sensível às muitas dimensões da existência, mas estranhamente desconfiado da racionalidade explicativa.
Ora, esse objetivo (“qualitativo”, por assim dizer) alcançamos mais rapidamente do que prevíamos ao trabalhar convencendo as pessoas de que a objetividade não é inimiga da sensibilidade, da teoria, ou dos projetos de transformação. Ao enfatizar que o conhecimento que se apoia sobre a verificação não é apenas instrumental, mas iluminador.
(Verificação é um problema que na filosofia da ciência se traduz em: “como você sabe que o que está afirmando reflete a realidade?”. Descreva os conceitos que está a empregar. Fale sobre as ferramentas que utilizou para observá-los. Explicite seus indicadores, os casos colhidos, sua representatividade.)
Explique-nos, gestor da área social, o que ocorreu e convença-nos de que seu programa melhorou a vida das pessoas, como, quanto, quando.
As vezes em que vi olhares desconfiados do “positivismo” se abrirem aos poucos às  possibilidades transformadoras do saber positivo no decorrer de um projeto foram as mais gratificantes, sem dúvida. Ali sentidos fundamentais da avaliação de programas sociais foram compreendidos: mudar a vida das pessoas para melhor, fazer mais com menos, fazer direito. Todo método decorre daí. Não importa se “quali” ou “quanti”, desde que traga respostas as mais verdadeiras possíveis para as perguntas certas. E perguntas certas são aquelas que têm nexo com a transformação pretendida.
E, não menos importante, me dou conta de que a Paula, super racional ex-gestora corporativa hoje professora de francês, e os demais profissionais que trabalharam aqui desde então, têm em comum essa virtude de buscar objetivamente as possibilidades humanas do desenvolvimento social, o que define em grande medida a Plan como instituição.

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